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terça-feira, março 17, 2009

Os jornaleiros arautos da desgraça


Confesso que me começa a irritar solenemente as sistemáticas citações de artigos e linkes que querem provar (não se sabe bem a quem) que os jornais estão a chegar ao fim. É um pessimismo estúpido, um cair de braços, um apelo à rendição e à falta de ânimo.

Pagaram-se fortunas a gurus do jornalismo (alguns nem nunca chegaram a ser jornalistas) para espalharem num estilo de Igreja Maná e com uma fé de Opus Dei, de que os jornais ou arrepiavam caminho e enveredavam pela inspiração televisiva (ritmo, surpresa, noticias contadas por desenhos, côres, textos telegráficos, fotos encenadas) ou acabavam.

A verdade é que a indústria automóvel perdeu 50 por cento do mercado em 3 meses, mas os jornais têm vindo a perder leitores em queda lenta, ao longo de anos. A pub sobe na net mas não na razão inversa aos lucros perdidos e da audiência em queda assinalável, mas lenta e previsível, no papel. É a edição impressa que sustenta a internet e esta, por muita paixão que desperte e muitos cliques que permita, está muito longe de se auto-sustentar e mais: de ser um negócio seguro.

Portugal foi sempre um dos países mais fracos em leitura de jornais, estamos atrás da Grécia há muitos anos. E não replicamos a realidade da imprensa internacional. Os nossos jornais vendem pouco, mas na verdade nunca venderam muito mais. Há um público potencial que acorda quando há brindes ou quando há uma manchete excepcional. E há um público conservador e fiel.

O criador da mítica Wallpaper dizia na passada semana ao Expresso que o futuro dos jornais e das revistas está na excelência, na qualidade. Ninguém troca uma revista de papel aveludado, impressão vibrante, textos cativantes e fotos inesquecíveis por umas páginas na net que mudam, que são fugazes e superficiais. São meios diferentes, para tempos diferentes de utilização. É como trincar um tremoço ou saborear caviar. (!)

Isto tudo para dizer que acredito nos jornais e no futuro, embora os jornais tenham de oferecer excelência em tudo: impressão e grafismo, mas sobretudo nas histórias escritas e fotografadas por profissionais de excepção. Os leitores vão ao encontro de nomes, de referências, de quem possa atestar por si a qualidade impressa. O jornalismo aos jornalistas.

5 comentários:

  1. Mas a verdade é que há cada vez menos jornalistas no jornalismo. Ou será que estou enganado.
    Com estima

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  2. Eu também "acredito nos jornais e no futuro, embora os jornais tenham de oferecer excelência em tudo: impressão e grafismo, mas sobretudo nas histórias escritas e fotografadas por profissionais de excepção. Os leitores vão ao encontro de nomes, de referências, de quem possa atestar por si a qualidade impressa. O jornalismo aos jornalistas."

    É utópico, mas acredito. E quando o homem sonha...
    Tou por aí.
    A propósito soube na semana passada que um jornal local centenário que tinha ainda a "regra" de nunca colocar uma foto na primeira página, (Jornal de Abrantes) tinha sido "comprado" por uma construtora.
    Construtora que, muito se especulou na altura estava ligada ao PS e que teria até sido alvo de "ofertas" generosas ao sr presidente da câmara (PS) pelso negócios prósperos que por aqui andavam. Parece, digo eu e diz o povo.

    E esse sr presidente já anunciou a sua não recandidatura. Foi apresentada já uma secessora.
    Mas de muito menor peso.
    Resumindo e concluindo, um jornal pode ser muito útil...

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  3. «Jornalismo aos jornalistas» (aos artífices dos factos, que são notícia) e jornais aos leitores.

    http://katchume.blogspot.com/2009/03/j-do-futuro.html

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  4. sim... claro

    mas primeiro é preciso ensiná-los a escrever e ensinar-lhes também a grande diferença entre um jornalista e um comentador...

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