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quarta-feira, dezembro 10, 2008

Silêncio, ACÇÃO ! Oliveira já canta 100!!


Amanhã, quinta, Manoel de Oliveira faz cem anos. Vai estar a filmar na baixa lisboeta. Numa altura em que qualquer profissional com 50 anos de idade está na mira de ser abatido pelo sistema, que decidiu prescindir da experiência e da razão, Manoel de Oliveira trabalha e até já lamentou para um amigo, que se reformou agora aos 65 anos, que terá feito mal em ter parado de trabalhar. Oliveira está apreensivo: não tem direito a uma reforma que lhe permita viver sem trabalhar para lá dos cem anos ....

A força de Oliveira vem na verdade dessa energia interior que o chama para o dever do cinema. Aos 8o anos, quando ficou falido e teve de vender a sua casa de família Art Déco, virou-se para o seu produtor de então, o Paulo Branco, e disse-lhe:" agora é que tenho mesmo de trabalhar, não podemos parar!". E foram este últimos anos os mais produtivos do realizador.

Eu adoro o cinema do Oliveira. Há planos que ficam só por si como obras de arte. Lembro-me daquele travelling em tele-objectiva em torno de uma árvore no "Nom" ou daquele plano fixo de um carro ( um MGB!) que sai do enquadramento e passados uns longos segundos volta a entrar. Só este plano daria uma tese sobre o conceito de "fora de campo" como capacidade narrativa.
A força da obra de Oliveira está na genuinidade, na transigência das regras, na liberdade total de realizar, aliadas a uma rara sensibilidade que nunca se percebe se é produto de uma grande reflexão sobre o cinema ou o acto natural de quem filma como respira.

Oliveira vive ainda no tempo do cinema de autor, e a sua obra é um milagre, possível à conjugação de astros e poderes políticos que lhe têm permitido filmar. Abençoados sejam.
Obrigado Mestre.

2 comentários:

  1. Leia aqui http://5dias.net/2008/12/11/cem-anos-de-manoel-de-oliveira/ o que diz um gajo de esquerda.

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  2. Parabéns ao senhor, mas essa de por ser "cinema de autor" tem de ser bom é uma piada... Hitchcock também é por muitos considerado cinema de autor e está a milhas de distância de Oliveira. Ainda ontem estive a ver um pouco do C Colombo e aquilo é uma miséria. Aqueles planos longuissimos de um mar e céu desinteressantes, com uma luz quase de meio dia, sem encanto, sem magia. A fotografia "de autor" também existe. cartier-Bresson e outros são mestres, mas ali existe magia, existe conteúdo, existe filosofia. Oliveira esquece-se da camara em cima do tripé, mas verdade seja dita, para uma pessoa com 100 anos mesmo assim é de louvar.

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