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quarta-feira, agosto 27, 2008

Lili Caneças multimédia dá polémica

Lili Caneças fotografada por Luiz Carvalho ( clique na foto)

Pois. Lembro-me de ouvir o Luíz a defender com unha e dentes o fotojornalismo como uma coisa onde se está de corpo e alma e de sentido apurado constante sem deixar disponibilidade mental para outras coisas... como o vídeo.
Isto a propósito do profissional da fotografia já estar a ser “obrigado” a fazer também a reportagem em video (ou pelo menos a pensar que afinal já não tem outra solução senão rapidamente pode ser dispensado, sim porque a qualidade fotográfica isso fica para segundo plano, como se soube recentemente como por vezes se fez e quem fez a edição fotográfica do “Público” por exemplo).

Bem o tempo passa e as pessoas podem mudar de opinião. E ainda bem.
Por mim mantenho-me agregado apenas à fotografia, sempre que tenho de fazer algum trabalho de reportagem.

Mas que as fotografias publicadas na revista me parecem fotogramas retirados do video, lá isso parece-me. Parece tudo muito igual. Ao ver o vídeo ou ver as fotos, vê-se que é a mesma coisa. Tá tudo muito colado. E eu penso que a fotografia e o vídeo têm linguagens diferentes. Eu não conseguiria fazer as fotos e dizer à pessoa (neste caso), repita lá esses movimentos para poder filmar agora em vídeo. Mas claro que eu sou “verde” nestas lides e só pratico fotojornalismo light.
Acredito que se houvesse um profissional a fazer fotografia e outro a fazer o vídeo que o trabalho sairia muito mais rico.

E essa coisa do tipo da imagem poder fazer tudo (video, foto, som em stereo, etc) é uma realidade que o poderio económico nos quer fazer passar como sendo a melhor coisa que nos poderia ter acontecido.
A nós, claro e a eles muito mais. Assim poupam milhares e vêm os seus largos bolsos a encherem-se cada vez mais. E aqui andamos nós todos contentinhos com esta possibilidade que a técnica nos dá que é poder fazer tudo sozinho. One man show.

(É confusão minha ou há uma figura da TV que diz na reportagem “não tinha mais máquinas para trazer?”)

Quanto à Lili, acho que toda a gente pode ser tratada jornalisticamente em qualquer órgão de comunicação social desde que de forma digna e profissional. Quem lê a reportagem que tire as suas conclusões.

Abraço

Paulo Sousa


Não respondo por princípio aos comentários. Mas não resisto a fazê-lo tendo em conta o comentário de cima ser do Paulo Sousa, meu ex-aluno num curso de fotojornalismo do Observatório de Imprensa. O Paulo é um fotógrafo aplicado e de qualidade acima da média, uma pessoa séria e que gosta do que faz.
Gostava de dizer o seguinte, embora me esteja a repetir:

A minha posição sobre o fotojornalismo e o exercício do mesmo não mudou. Contínuo a achar que devemos tudo fazer de corpo e alma. O fotojornalismo exige também essa disciplina. Mas essa postura de princípio não pode ser dissociada da nossa realidade. Trabalhamos para os leitores, para o patrão e nada faz sentido se não entendermos que as nossas fotografias de nada valem se não forem capazes de contar histórias e de surpreenderem.
Hoje não trabalhamos para um jornal. Trabalhamos para uma marca que distribui notícias em formatos diferentes, suportes vários e em tempos diferentes. A marca Expresso (por exemplo) tem um semanário, um on-line, mensagens nos telemóveis, um canal de TV ( o grupo onde pertence) e emissões in-door. Poderá ter um dia uma rádio e um diário. Portanto, o trabalho de um jornalista tradicional nem sempre se coaduna com uma redacção multimédia.

Os tempos mudaram. As ferramentas digitais permitem de uma maneira espantosa a convergência da fotografia, com o vídeo, o audio.
A Magnum foi a primeira agência de fotojornalistas (ortodoxos!) a perceber que a forma de mostrar fotografias mudou. O site inmotion é um bom exemplo de como o fotojornalismo manterá a sua essência ( linguagem, técnica, olhar e atitude) mas a forma de mostrar as fotografias passou a ter também outros formatos.

Nunca ninguém me obrigou a fotografar, a filmar e a escrever ( e a conduzir!)ao mesmo tempo. Esta ideia já a pratico há mais de vinte anos. E não se trata de fazer melhor ou pior uma coisa, trata-se de eu gostar de usar vários meios para me expressar (decerto o farei melhor em fotografia porque é aí que concentro mais o meu trabalho).

A ideia de que um "repórter de imagem" faria melhor ao meu lado é errado. Tenho feito algumas reportagens nesse registo e posso dizer que uma equipa de reportagem de TV só atrapalha e, aí sim, é que o trabalho do fotógrafo é perturbado.
Claro que há trabalhos em que não é possível convergir as plataformas. Há outros, quando os tempos se podem desmultiplicar e não são simultâneos em que se pode filmar, fotografar, escrever e...namorar!!!

O meu vídeo da Lili é um material diferente das fotografias. primeiro: foi editado por mim, filmado e escrito por mim. Tem uma intenção clara, tem declarações que não aparecem nas fotos. É outro olhar e até diferente das fotos, embora sejam planos semelhantes, porque sendo eu que ali estava era natural que fossem aqueles os ângulos. Nas fotos não há travellings, panorâmicas, fades, dissolves, é uma linguagem diferente. Nas fotos haverá charme e ironia, no vídeo há um lado voyeurista e felliniano totalmente diferente.
O Paulo fica pela ramagem e não vê a floresta. E sobretudo está cheio de preconceitos: tem uma ideia sindicalista (fotógrafo dispara, operador filma, redactor escreve) e uma postura corporativa: os fotógrafos são uma classe à parte.
Ora um dos males dos fotógrafos de imprensa é que ao acharem que só devem saber fotografar acabam por ficar reduzidos a meros bate-chapas. Conheço fotógrafos que se recusam a escrever legendas, editar fotos no photoshop, não sabem escrever o curriculum e têm raiva a câmaras de vídeo, telemóveis, net e afins. Vivem no passado.
Repito: não defendo os faz-tudo e até reconheço que há uns espertalhaços (parece que está a acontecer na Lusa) que acham que os fotógrafos são umas mulheres da limpeza para varrerem tudo a fotos e vídeo. Mas isso são os mediocráticos. Temos de lutar contra a mediocridade mas devemos estar abertos a entendermos os novos meios que temos à disposição para melhor nos expressarmos.
Por vezes uso a Leica, outras reflex, outras grandes teleobjectivas outra câmaras de vídeo, outras escrevo...não devemos estar formatados. mas respeito quem só quer e sabe fotografar e o faça com pica.
Mas também acho que tal como não é possível a um bom arquitecto projectar sem ter noções avançadas de engenharia e outras disciplinas, também acho que fotografar engloba um conhecimento amplo do jornalismo. Acaba por andar tudo ligado.
O fotógrafo que não sabe de nada e é um jeitoso das fotos parece-me ridículo, e inútil, nos dias de hoje.
É um debate que não vai ter fim....

Luiz Carvalho

PS: A Nikon anunciou hoje uma reflex profissional que também filma em HD

15 comentários:

  1. Acerca dos desafios que se apresentam nesta fase de transição nos media, recomendo o link abaixo. Embora seja extenso, parece-me ser uma das melhores dissertações sobre as incertezas, que se apresentam no futuro próximo dos fotógrafos.

    Cumprimentos

    Carlos Manuel Martins

    http://www.sportsshooter.com/news/2014

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  2. afinal a dona maria alice acabou por ter o mérito de nos pôr, aqui, a debater o passado, presente e futuro do fotojornalismo e das novas plataformas a ele associadas. um abraço de outro ex-aluno do observatório

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  3. "A Magnum foi a primeira agência de fotojornalistas (ortodoxos!) a perceber que a forma de mostrar fotografias mudou. O site inmotion é um bom exemplo de como o fotojornalismo manterá a sua essência ( linguagem, técnica, olhar e atitude) mas a forma de mostrar as fotografias passou a ter também outros formatos."

    Na in motion da Magnum não existem fotógrafos. Existem técnicos de multimédia altamente especializados e criativos, que estagiam na agência apenas na parte multimédia, para assim serem "moldados" ao que deles se pretende e ao que a agência quer mostrar ao mundo e clientes dos fotógrafos que representa. Ex: Martin Fuchs. Isto não inviabiliza que o Martin Fuchs na sua vida não fotografe como freelance, porque gosta e porque é uma linguagem em que também gosta de se expressar. Mas a sua especialidade é a multimédia.

    Os fotógrafos que a Magnum representa não são todo-em-um. O que não quer dizer que caso lhes apeteça não filmem ou escrevam para se expressarem. Ex: Alec Soth

    Isto tudo para dizer que a Magnum apesar dos seus valentes anos ainda não é apenas "uma marca" que distribui notícias em vários suportes. A Magnum incentiva os seus fotógrafos a fazerem isso mesmo: fotografarem. A Magnum incentiva a especialização e não a dispersão.

    Se calhar é nesta especialização e diferenciação profissional que reside a qualidade. Digo eu. Porque muito, bom e depressa nunca ninguém teve. Quem pensa que sim estará certamente a fazer alguma das coisas pela rama. É o que me ocorre sempre que vejo/leio algumas reportagens ditas de fundo do nosso cantinho à beira mar plantado. São de fundo feitas em 3 dias...alguma coisa terá de ficar pelo caminho.

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  4. Este comentário foi removido por um gestor do blogue.

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  5. Este tema tem pano para mangas. E podemos nunca chegar a consenso.
    Luíz, também concordo que as coisas vão evoluindo nas redacções e nos grandes grupos económicos ligados à comunicação social com o advento de novas tecnologias que podem e devem ser exploradas para este fim, abrindo novas perspectivas e novas formas de abordar o jornalismo.
    No entanto também se fazem cada vez mais contas aos lucros que podem gerar. E para isso temos visto por este país fora que o objectivo dos grupos económicos é apenas o lucro. E é curioso que quando apontam subidas nos lucros na ordem dos 30% e só conseguem atingir apenas 29% não vêm dizer que os lucros foram menores em 1%, dizem que tiveram prejuízo.

    Isto tudo para dizer que muitas coisas que vão acontecendo não acontecem porque os fotojornalistas de repente se lembraram de fazer uma surpresa ao patrão ou tão só por curiosodade testarem os seus dotes no video e trazer e tudo o mais sobre o acontecimento.
    Também acontecem porque estes profissionais também estão a ser cada vez mais pressionados para o fazer.
    Mas também já percebi que esta nova geração de profissionais está a ficar com uma predisposição natural para estes novos desafios.
    O caso da lili até se propicia a fazer as duas coisas em simultâneo mas o mesmo já seria impossível no final da volta a Portugal em bicicleta. Aqui, ou uma coisa ou outra. Não estou a ver "qualidade" num trabalho com linguagens diferentes e que exige abordagens diferentes sobre um acontecimento que não permitirá grandes erros sob forma de se poder perder o “puncto” ou um “instante decisivo” ou lá o que se queira captar.
    E quando digo que o trabalho de fotografia e vídeo está muito colado, apenas quero dizer que talvez fosse preferível fazer um trabalho em fotografia e outro em vídeo, onde os planos são fossem repetidos. Talvez um trabalho assim complementasse o outro embora sendo distintos.

    Sobre a edição das fotos, e tentando ir um pouco mais dentro da floresta, neste momento estou numa formação superior em fotografia e, se eu me deixar levar pelo que tenho aprendido a fazer no photoshop pelo meu trabalho, rapidamente deixo de fotografar. O trabalho de edição é moroso e não deixa muito tempo para fotografar. Mas isto até já o Natchwey e muitos outros como o Sebastião Salgado faziam e fazem: entregam o trabalho de revelação e edição a outros profissionais dessa área em que depositam confiança total. Ficam assim com mais tempo e disponibilidade mental para pensarem no trabalho fotográfico.

    Eu tenho resistido muito à edição fotográfica porque tenho passado muito tempo sentado com um rato e um teclado à frente. E quando dou por mim 80% do tempo gasto numa reportagem é passado sentado. Tento tirar partido apenas dos automatismos que o programa permite e ir beber um café enquanto o tipo trabalha sozinho.

    E já agora em jeito de humor tenho aqui perto um profissional que já teve estabelecimento comercial aberto e era delicioso ver a sua figura com a sua barriguinha avançada a apoiar ora a máquina fotográfica ora a câmara de vídeo e a fazer a reportagem fotográfica, figura a figura e a fazer também um vídeo em travelling às filas de magalas nos juramentos de bandeira nos quarteis de Abrantes e Constância.

    E aquilo vendia como cerejas.

    (Também quero agradecer as palavras sobre mim que tão amavelmente teceu)

    Abraço

    Paulo Sousa

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  6. Sou de outra galaxica!
    Não me meto em discussões de fotografos/jornalistas!

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  7. galaxica! foi de propósito !

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  8. E prontos as comadres fazem as pazes. Tudo está bem quando acaba bem

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  9. Caro Luiz, será que o meu amigo se sente mais fotógrafo ou operador de multimédia?
    Abraço
    A.R.

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  10. http://www.flickr.com/photos/luizcarvalho/sets/72157604218574937/

    "(...) Temos de lutar contra a mediocridade (...)"


    http://www.flickr.com/photos/luizcarvalho/sets/72157606987273029/

    "(...)Recuso-me a ser um fotógrafo formatado.(...)"

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  11. http://www.flickr.com/photos/luizcarvalho/2244533549/

    à esquerda um dos maiores fotógrafos portugueses de sempre

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  12. Este comentário foi removido por um gestor do blogue.

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  13. tanta treta por uma profissão erm vias de extinção. Fotojornalista ?
    Mas que é isso ? o futyuro n terá fotos nem notícías ´só gajas boas !

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  14. é com cada ressabiado.. não ha paciencia!! aproveitem as tecnologias, filmem, escrevam, fotografem... DIVIRTAM-SE!!

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