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sexta-feira, abril 13, 2007

No tempo em que os engenheiros falavam

Engenheiro Duarte Pacheco, quando ser engenheiro não era grau social

Nos meus 52 anos sou já do tempo em que os engenheiros eram uns tipos de tirar o chapéu.
Havia no Portugal antigo uma classe de técnicos de grande prestígio.

Eram os técnicos que tinham permitido a Duarte Pacheco fazer obra pública e a deixar para a História do país uma colecção de obras notáveis: o viaduto com o nome do dito, a ponte da Arrábida, os edifícios de referência como o Técnico, o EDEN, as avenidas novas, as escolas dos centenários…nunca mais acabaria de citar o que foi obra feita nos anos 40-70 do século passado.

O meu padrinho de baptismo era um engenheiro do Ministério das Obras Públicas, um técnico à prova de bala, o homem que introduziu em Portugal o betão armado e que projectou algumas das vivendas modernistas da Foz do Porto, no estilo Bauhaus. Era o engenheiro Jorge Viana, que no final de carreira era inspector superior do Ministério das Obras Públicas. Este grupo de notáveis também incluía arquitectos constituíam uma elite. Era um orgulho trabalhar com eles.

Ainda me cruzei na década de setenta - oitenta com alguns deles, com quem trabalhei como estagiário de arquitectura na Direcção-Geral das Construções Escolares, e como arquitecto na Direcção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais, entre 79 e 89.

Estes técnicos acabaram por contaminar em qualidade e excelência muitos ateliers privados para onde trabalhavam fora das horas públicas - como sucede hoje a muitos médicos.

Quando depois do 25 de Abril se começou a pôr em causa a exclusividade, alguns abandonaram o Estado, os melhores e mais bem pagos. Ficaram os que não tinham trabalho privado, ou seja: os medíocres. Os técnicos antigos reformaram-se, ficaram os novos formados sem o mesmo rigor e o saber. As Universidades entraram em roda livre depois do 25, as novas gerações eram mais ignorantes, com muito menos trabalho de campo e experiência.

Quando Sócrates quer ser engenheiro eu percebo: os agentes técnicos com quem trabalhei adoravam ser chamados de engenheiros. Era um estatuto de borla, para eles que nunca tinham conseguido fazer o que desejavam.: ser mesmo engenheiros.
Mas para isso teriam de ter o 7º ano, a difícil admissão ao Técnico, vencer os dois primeiros anos do Técnico, que não eram pêra doce. O mesmo se aplica aos arquitectos. Não era nada fácil entrar em arquitectura na ESBAL, mas já era fácil entrar em pintura ou escultura na ESBAL: para estes dois cursos bastava o 5º ano e um exame de desenho de estátua.

A mesma diferença de grau académico entre um agente técnico ( correspondente a um guarda-livros) ou um engenheiro.

Sócrates achou que com umas transferências, trocas e baldrocas, acabaria por ser um engenheiro. Para ele não era uma questão académica era uma questão de título.

Parece que 60 por cento de quem o ouviu na tv ficou convencida.

Num país de cábulas estavam à espera de quê ? Milagres ?

2 comentários:

  1. E a banda de pacóvios que nao querem que lhe chamem engenheiro?! Dao tanta importancia ao titulo que nem por ser licenciado pode usufruir. Tem de fazer exame à ordem. Depois vem um estrangeiro qualquer. diz que é engenheiro e telefonam para a ordem a perguntar se podem chamar o senhor de engenheiro ou é pecado.

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  2. Conheci o IST e olhe que não me pareceu ver nenhuma excelência no ensino (84-86). Algumas supostas sumidades (que não ponho em causa o saber) não tinham nitidamente vocação pedagógica. já que nos tratavam como paredes sem cérebro.
    Quanto tantos se orgulham de terem concluido so cursos normalmente, isso não nos diz toda a história.
    Bom, tudo serve para a atacar quando há vontade para isso. Tanto pode ser com o PM com qualquer outro a seguir.
    Eu ao fim de vinte anos não estou a exercer a profissão para a qual tive formação superior (e ainda bem!), e não estou a ver o Luiz Carvalho a exercer a profissão de arquitecto. Há que ter algum cuidado em relação a estes assuntos.
    Uma convicção pessoal minha (que pratico todos os dias) é a de que a universidade não dá inteligÊncia a ninguém, e que podemos aprender o que necessitamos e gostamos sem ser através dela.

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