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quarta-feira, dezembro 13, 2006

Porque gosto da história de Carolina Salgado

Instante Fatal em quarta posição no Google, ontem, na pesquisa "Carolina Salgado".



Alguns leitores do Instante Fatal têm-me criticado por ter cedido às audiências e de ter dado aqui espaço ao livro e a toda a polémica em torno de Carolina Salgado.

Eu sou um fanático das audiências.

Defendo até ao fim que os jornalistas têm de trabalhar para os leitores e que não há leitores maus, há mau jornalismo. Sem leitores não há jornalismo e sem eles não há empregos.

Quando fui editor multimédia do Expresso aumentei em poucos meses significativamente as audiências. E nunca cedi, nem me deixariam, a tentações fáceis.
Apostei na qualidade, na surpresa, na emoção, na agilidade, na utilidade para com os leitores.


Atraír o público é uma arte, tal como é uma arte sermos pessoas com qualidades para os outros nos seguirem, admirarem ou amarem.

Uma geração de jornalistas, dos anos 70, habituou-se a trabalhar para um público que não tinha escolhas, logo era fácil monopolizar os temas quer na forma quer nos conteúdos. Quando vemos a RTPmemória achamos inacreditável como a televisão era tão má há 15 anos. Era porque o monopólio estatal exercia a sua ditadura da mediocridade.

Depois muitos jornalistas habituaram-se a considerar que o patrão ( quer fosse Estado ou privado) só tinha de pagar os prejuízos dos jornais, ou televisões, ou revistas, porque o contrário era ceder à qualidade. Escreviam para eles, para os amigos. O leitor era burro se não os entendesse.

Um dos maiores embustes foi o mito do segundo canal da RTP.
As mentes defensoras do jornalismo dito sério achavam que aquele canal era bom porque era chato, cinzento, esquerdista e muito, muito, mal feito. Aquelas reportagens tipo diaporama da Diana Andringa, e de outros da mesma escola, eram o exemplo de televisão séria.
Até o Carlos Pinto Coelho já estava na calha para se tornar o idiota padrão do jornalismo cultural. ( que nunca doam as mãozinhas ao boxeur!!)

Estes dogmas são mortais na nossa sociedade. Por isso não evoluímos.

Ontem no LUX, no lançamento do excelente livro sobre fadistas do meu colega Jorge Simão ( grandes fotos Jorginho!!!) e da Alexandra Carita, um editor de um recém criado tablóide estava escandalizado porque o Expresso tinha sido desenhado por um designer espanhol. Como se o design tivesse pátria. Mas estava feliz porque a sopa de letras onde trabalha tem um ovo estrelado na testa. E tinha sido matutado por um jeitoso nacional. ( é um ex-intelectual resignado às maravilhas do entulho gráfico e o que é nacional é bom!!)

Isto remete-se para esta grande verdade: os nossos olhos só vêm o que nós queremos e a nossa inteligência é completamente selectiva.

Voltando aqui: o meu interesse pela história da Carolina aponta em vários sentidos. Acho a história políticamente importante, acho-a socialmente um retrato de um certo país que temos, humanamente é terrível: é um murro no estômago, um drama shakesperiano de amor, ódio, traição, com muita bimbalheira pelo meio num toque final com música de Nino Rota.

Ainda voltarei ao tema.

7 comentários:

  1. Então é só para complementar a minha abertura do post acima.
    São as audiências e, também o confessa, aproveita-se da bimbalhada nacional. Faz bem.
    A mim lembra-me o pastor, na serra com as ovelhas, a ouvir o telemóvel tocar. Touxim?
    Este estereótipo é que devemos vender, pela Carolina, ou dar guarida, no seu caso?
    Concluo em duas penadas que o seu exemplo de profissionalismo me desagrada. Não, não sou intelectual e procuro jornalismo sério, nem que seja de causas, e muito a sério.
    Oferecer ao pagode uma mão cheia de nada e outra de coisa nenhuma, massificar pela repetição, insistir numa coisa que se tiver valor criminal será investigado é uma coisa.
    Dar a comer ao povão coisas a vulso, sem contexto, só porque o dizem, é outra coisa.
    Como noutro post, a propósito, também mostrei a minha consternação pelo jornalismo (altamente condicionado e censurado) a que estamos sujeitos, espero que compreenda a minha preocupação nesta matéria.
    É que não embarco em populismos.
    Repare, só para terminar. A Carolina não revelou, nem sabe sequer, mais do que alguns jornalistas que conheço e ouço repetidamente falar de corrupção, encomendas, conluios, compras, favores, árbitros, títulos, mulheres, drogas, putas, etc. Esses, aliás, riem-se da ingenuidade dela, percebem como está a ser aconselhada segundo uma matriz conhecida e que tem pela Imprensa ampla amplificação/intoxicação, e não viram nenhum facto novo no livro.
    Algo mais recente seria a agressão ao vereador Bexiga. Mas isso já foi antecipado no Crime e era falado no bas-fond.
    As melhoras.

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  2. Não há maus leitores, há mau jornalismo

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  3. Não pretendendo, até pelo adiantado da hora, fazer um comentário melhor estruturado, embora, talvez, o venha a fazer, na linha dos meus posts que, abusivamente, ou talvez não, porque, afinal, o motivo subjacente é o "Instante Fatal Carolina Salgado Pinto da Costa", desculpando a ironia, que venho "colando" no seu blog, acho que o Luíz tem razão quando diz que o assunto é importante quando acha "... a história politicamente importante, acho-a socialmente um retrato de um certo país que temos, humanamente é terrível: é um murro no estômago, um drama shakesperiano de amor, ódio, traição, com muita bimbalheira...".
    Sem dúvida.
    Só que o ineressante é que o faça como o fez agora e não depositar notícias, vídeos, fotos, que eu vejo quando passo em frente à tabacaria nos jornais e revistas pendurados com molas, onde todos os sábados compro o Expresso.
    Ou seja, não concordo com a "linkagem incestuosa", mas sim que escreva da sua cabeça, porque, quando quer, dá prazer ler e ver o Luíz.
    Agora, servir de Agência Lusa é que não me parece bem, para isso, então, passo na tabacaria e vejo os títulos ou compro os jornais.
    Um blog, para mim, não deve ser um repositório, mas, antes, um espaço para conversar, como quem se junta na tertúlia à mesa do café.
    Ou seja, converse mais connosco, em vez de trazer para aqui tablóides, porque, apesar do tabaco estar caro (eu, por acaso, até nem fumo), o pessoal ainda tem algum para comprar os jornais e a internet está cara para levar com lixo em cima.
    Não lhe desejo "as melhoras".

    Abraço do 212àhora

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  4. Para pagar as contas há que produzir jornais que as pessoas comprem, agora isso não quer dizer "bom jornalismo" por muito sonante que seja o titulo.
    Se uma história beliscar interesses grandes não sei se ela é publicada, e estou a falar de reportagens bem fundamentadas, não coisas feitas só para encher páginas.
    Acho piada ao facto de chamar tantos nomes à RTP de antes da privatização, podia ter reportagens cinzentas, mas não estava cheia de lixo que as "audiências" hoje adoram, tinha muito claro que sim, mas tinha lá programadores que não trabalhavem em função delas e da estupidificação das pessoas.

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  5. Disse tudo ao afirmar que “há mau jornalismo”. Consequentemente, só posso ler que há maus jornalistas. Isto porque exploram à exaustão o mais sórdido da sociedade e, muitas das vezes, sem terem o cuidado mínimo de analisar o que lhes está à sua disposição. O que é importante é que seja bombástico e o que é bombástico, para uma população que não chegou a passar por uma evolução cultural é o que é de fácil leitura, são os escândalos ou, em oposição, aquilo que a faz sonhar com uma vida melhor – veja-se a quantidade de revistas ditas cor-de-rosa que pululam por aí.

    Não vou afirmar que este caso, em que o instante fatal se tem substituído aos alertas do google para notícias, não seja importante. Mas é-o na medida em que expõe os bastidores sórdidos de um poder corrupto. A partir daí é folclore. E, antes da publicação do livro – que há-de ser top, em altura de natal - não houve um único jornalista que investigasse seriamente o que se passava à volta de todo o processo, como não houve quem o fizesse de uma forma objectiva para um outro processo cujo mediatismo ditou a ausência de uma investigação honesta. Porque o que interessa é deitar fogo pela boca para entreter os que vão à feira para se divertir. E isso é mau, muito mau. O jornalismo passou do cinzento ao espalhafatoso multicor e o público, como nos idos anos 70, volta a não ter escolhas.

    E o mais grave é que, provavelmente, haverá muitos Luizes nas universidades portuguesas, ou este tipo de notícias não tomaria conta dos jornais. Sim, continua a ser verdade: “a bola é qu’induca e o fado é qu’enstrói”. Tudo o resto é cinzentismo, modernamente disfarçado de cores vistosas.

    Mais, meu caro, não se iluda. Este público maioritário, que vocês julgam pedir o aligeiramento de todos os órgãos de comunicação, é precisamente o mesmo que dá as maiorias aos políticos que o Luiz tanto critica. Ataca-os por um lado e alimenta-os pelo outro.

    Dizia há uns 2 anos um elemento do sindicato dos jornalistas, desses que o Luiz provavelmente acusará de esquerdistas, que os jornais não têm de educar a população. Acredito que concorde com o tal senhor. Eu, que não me situo em nenhum quadrante político, discordo. Os jornais e os jornalistas têm o dever de fazer chegar às pessoas toda a realidade do mundo em que vivem, ao invés de as distraírem de coisas tão ou mais importantes que aquelas que o instante tem espelhado nos últimos dias.
    Se algum dia o vierem a fazer, talvez verifiquem que a quebra sentida na venda de jornais/papel se deve também ao facto de cada vez menos as pessoas estarem dispostas a pagar por lixo, ao qual podem facilmente aceder na Internet, sem custos adicionais.

    Como informação complementar, todos os dias recebo a newsleter do Correio da Manhã, mas jamais gastarei um cêntimo para o comprar. Da mesma forma, recebo a do Público, leio-o online, bem como o DN e nem uma nem outra situação me inibem de ir ao quiosque da esquina comprá-los, para os ler onde e quando quiser. Porque há uma minoria que poderá transformar-se em maioria quando os senhores jornalistas passarem a encarar com seriedade o seu papel.

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  6. Isso de justificar os textos de um blogue com o motivo de aumentar as audiências é para mim um pouco esquisito. E dá-me vontade de não voltar aqui. Sempre pensei que um blogue fosse outra coisa, mas está bem.

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  7. quero agradecer ao Luis pelo blogg que conheci por causa das buscas da carolina e que sou adepto das suas escolhas e que continue para limpar de vez com os resquicios da sociedade slazarista onde toda a gente sabia o que se passava mas tinham que ficar calados senão perdiam o emprego .
    Assim criamos o monstro da CASA PIA e CORRUPÇAO em todo o lado.
    eu estou farto dos factos que toda a gente sabe mas que ninguem ousa falar, como o facto dos arbitros comerem a fruta.Era sabido à seculos que para ganhar jogos era preciso arranjar uns bacanais!!! Ficam os mais desinformados que todos os clubes recorriam a isso e em todas as divisões!!! não era só o porto , muito embora o facto do Sr reinaldo teles ter sido empresario de casas de alterne facilitasse

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