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quinta-feira, maio 11, 2006

A Lenda de Monsanto





À frente da procissão uma noiva de pele muito branca e transparente, engalanada num traje negro com um capuz em forma de caixa, transporta um galo de prata de espigão afiado. Ao olharmos com atenção podemos ler uma frase riscada sobre o metal: “1938, Monsanto a aldeia mais portuguesa”. Vai ali a assinatura de António Ferro, o ministro da propaganda de Salazar, o jornalista que quis dar ao regime um tom cultural e patriótico. Passados 68 anos o Rancho Folclórico de Monsanto, criado então com as adufeiras e seus cantares, lá vai ainda cantando e rindo com uma vontade férrea de sobreviver.
A 3 de Maio, ou no domingo seguinte, Monsanto faz a Festa das Cruzes.
A lenda vem do fundo dos tempos: durante um dos cercos mais prolongados ao castelo, durante a Iade Média, só já restavam uma bezerra e uma quarta de trigo. Uma idosa lembrou-se de dar o trigo à bezerra e de a lançar do alto do cabeço. O inimigo ao ver a vitela rebentar lá em baixo achou que a fartura afinal era muita e que a praça ainda tinha muito para resistir. Enganado, o inimigo abalou, e o povo de Monsanto, grato, passou a celebrar a vitória desde então.

Um pote de barro com muitas flores é lançado todos os anos em lembrança da vitela sacrificada, enquanto as raparigas vestidas à moda antiga levam nas mãos bonecas de pano, as marafonas, simbolo das mulheres de Monsanto.
As vozes agudas e ritmadas, pelo batuque dos adufes, projectam-se na paisagem de granito, entre escarpas e um horizonte sem fim.

A dureza e o carácter de Monsanto e da sua gente foi também referido um dia por Saramago:” Devemos entender o que há de pedra nestas pessoas e descobrir o que delas pessoas passou à pedra”.

ver reportagem multimédia em www.expresso.pt

4 comentários:

  1. Que bonito trabalho, professor. A apresentação multimédia (em http://online.expresso.clix.pt/dossiers/monsanto/galeria.asp) está muito bem conseguida. O som dá-lhe outra cor, e a cor dá-lhe outro cheiro...

    :)

    Um abraço fraterno

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  2. É das coisas simples que se fazem os melhores trabalhos e este é um bom exemplo. Bonito... muito bonito mesmo! E o som... como torna tudo tão diferente!
    Quem sabe, sabe! ;)

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  3. Olá.
    Não será necessário mencionar tudo o que as novas tecnologias nos oferecem de bom, mas esta reportagem, em papel (com duplas páginas), fazem-me lembrar que o jornalismo, em papel, ainda tem muito para dar.
    Um abraço
    Paulo Sousa

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  4. Tinha os meus 8/9 anos quando pela primeira vez pisei aquela que é tida como a terra mais portuguesa de Portugal. Apesar da tenra idade, fiquei fascinada - não sei porquê, mas há qq coisa na paisagem do norte e centro de Portugal que me encanta... a cor dos montes, o recorte das pedras na paisagem, o horizonte que nos faz querer voar e olhar mais além do que a visão consegue alcançar...
    (Re)ver Monsanto nestas fotos fez-me ter saudades... pensar como tantas x's passamos os dias de sol de papo para o ar numa praia qq, qd temos um país inteiro cheio de tesouros para descobrir,ver e rever...
    Gostei do blog!
    Fez-me reiterar a minha certeza pq é que ao fim de 6 anos, e mm insitindo cmg para me esquecer do título, continua a ser o "Professor". :)

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